Olho seco pode ser consequência do tratamento do glaucoma
O olho seco pode ser consequência do tratamento do glaucoma com colírios. Estima-se que 6 a cada 10 pacientes com diagnóstico de glaucoma desenvolvem a síndrome do olho seco. Mas, afinal, qual a relação do olho seco com o glaucoma?
Segundo Dra. Maria Beatriz Guerios, oftalmologista especialista em glaucoma, o desenvolvimento do olho seco em pacientes com glaucoma está relacionado ao uso de colírios para controlar a pressão intraocular (PIO). “O aumento da pressão dentro dos olhos é a principal causa de danos glaucomatosos no nervo óptico. Por isto, o principal objetivo do tratamento do glaucoma é reduzir e controlar a pressão intraocular”.
Há diferentes tipos de glaucoma, sendo os de ângulo aberto os mais comuns. “Na maioria dos casos de glaucoma de ângulo aberto, o tratamento consiste no uso de colírios que ajudam a diminuir a PIO e mantê-la nos níveis normais. Por outro lado, apesar dos benefícios dos colírios, estes medicamentos podem prejudicar a saúde da superfície ocular. Para além desses efeitos negativos nos olhos, os colírios podem levar à disfunção das glândulas sebáceas das pálpebras”, explica a médica.
Os colírios têm em sua fórmula algumas substâncias, conservantes e outros compostos químicos que ao longo do tempo de uso mudam as estruturas de algumas células. A partir disso, ocorrem alterações no filme lacrimal.
Por que o olho seco que é consequência do glaucoma?
As glândulas de Meibômio produzem o meibum, sebo que compõe uma das camadas do filme lacrimal. O meibum é crucial para manter a superfície ocular lubrificada e nutrida. Esta lubrificação ocorre a todo momento, sempre que piscamos, o filme lacrimal é espalhado pela superfície ocular.
“Contudo, o uso dos colírios para tratar o glaucoma pode desencadear um processo inflamatório nas glândulas de Meibômio, chamada disfunção das glândulas meibomianas. A inflamação causa alterações na qualidade e na quantidade do meibum. Como resultado, o filme lacrimal não cumpre corretamente seu papel e, a partir desse processo, surgem os sintomas do olho seco”, aponta Dra. Maria Beatriz.
Sinais e sintomas do olho seco que é consequência do glaucoma
Apesar da doença chamar “síndrome do olho seco”, os sintomas vão muito além da secura ocular. Veja abaixo os sinais e sintomas.
- Secura ocular
- Irritação
- Vermelhidão na esclera (branco do olho)
- Sensação de areia nos olhos
- Lacrimejamento
- Coceira
- Visão borrada
- Dificuldades para ler, dirigir, usar o celular etc.
“Um dos efeitos mais desconfortáveis do olho seco em pacientes com glaucoma é o aumento da concentração dos colírios na superfície ocular. Primordialmente, os colírios ficam mais concentrados, pois há menos lágrimas para a diluição dos compostos. Infelizmente, os pacientes podem sentir desconforto na aplicação dos colírios. O olho seco em pessoas com glaucoma é um importante fator de risco para o abandono do tratamento”, alerta a oftalmologista.
Tratamento pode aliviar sintomas do olho seco relacionado ao glaucoma
O tratamento para o glaucoma é imprescindível para prevenir a perda da visão. Porém, é importante esclarecer que a doença não tem cura, é crônica e progressiva. Além disto, não é possível reverter os danos visuais que já ocorrera. Entretanto, é possível prevenir novas perdas. Sendo assim, é importante que o paciente procure o seu oftalmologista na presença dos sintomas do olho seco e não abandone o uso dos colírios.
“De acordo com os conhecimentos que temos hoje a respeito da relação do olho seco com o glaucoma, procuramos adotar estratégias para prevenir o problema antes que ele surja. Um destes recursos é prescrever colírios que não tenham conservantes e outros excipientes que prejudicam a superfície ocular”, comenta Dra. Maria Beatriz.
“Outra recomendação é avaliar a possibilidade de uma cirurgia para controlar a pressão intraocular. Hoje, estudos importantes apontaram que a trabeculoplastia seletiva a laser (SLT) pode ser usada como o tratamento inicial, para casos leves e moderados de glaucoma. A cirurgia pode reduzir ou até eliminar a necessidade de usar colírios. Consequentemente, podemos preservar a superfície ocular do paciente”, conta a médica.
Uma luz no fim do túnel
“Para os pacientes que já desenvolveram a síndrome do olho seco e não respondem aos tratamentos convencionais, como uso de colírios lubrificantes e lágrimas artificiais, uma alternativa é a Luz Intensa Pulsada.
“A IPL age diretamente na inflamação relacionada ao olho seco, restaurando a função das glândulas meibomianas. A partir disso, essas estruturas voltam a produzir sebo de qualidade, melhorando a lubrificação da superfície ocular”, finaliza Dra. Maria Beatriz.
Um dos principais benefícios da luz pulsada é que o tratamento leva à remissão dos sintomas do olho seco por tempo prologando. Ao todo, o tratamento com a IPL envolve a aplicação em 3 a 4 sessões, com intervalos de 15 dias entre elas. Recomenda-se ainda uma sessão anual de manutenção.