
Cirurgia de glaucoma – Quais as indicações
A cirurgia de glaucoma tem algumas indicações específicas, ou seja, nem todos os pacientes com o diagnóstico são candidatos a passarem por um tratamento cirúrgico.
Em primeiro lugar, é importante entender que há diversas técnicas cirúrgicas para tratar o glaucoma. Desta forma, a escolha do tipo de cirurgia depende de inúmeros fatores, como tipo de glaucoma, estágio da doença, idade do paciente, entre outros aspectos.
Segundo Dra. Maria Beatriz Guerios, oftalmologista geral e especialista em Glaucoma, o principal objetivo de todos os tratamentos é impedir a progressão da doença, por meio do controle da pressão intraocular (PIO). Isto porque, o aumento da pressão dentro dos olhos é a principal causa de danos no nervo óptico. A partir destas lesões, ocorre a perda do campo visual, de forma lenta e silenciosa”.
Cirurgia para tratar o glaucoma e colírios: qual o melhor tratamento?
Primeiramente, é importante esclarecer que há diferentes tipos de glaucoma. Sendo assim, a escolha do tratamento, cirúrgico ou medicamentoso, depende da classificação da doença.
“A maior parte dos casos de glaucoma é de ângulo aberto. O ângulo é um pequeno espaço entre a córnea e a íris, por onde ocorre a drenagem do humor aquoso, sendo isto essencial para manter a pressão intraocular em níveis normais. Nesta região existe um tecido, chamada de malha trabecular, que ajuda no escoamento da substância”, explica Dra. Maria Beatriz.
Neste sentido, o glaucoma de ângulo aberto ocorre quando, de alguma forma, esses canais de drenagem apresentam bloqueios e, com isso, levam a um aumento gradual da pressão intraocular. Geralmente, o tratamento padrão para glaucomas de ângulo aberto é o uso de colírios para controlar a PIO.
“Contudo, há casos em que o uso de colírios não é suficiente para baixar ou controlar a pressão intraocular. Para estes pacientes, por exemplo, há indicação de cirurgia de glaucoma, chamada de Trabeculoplastia Seletiva a Laser (SLT). Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, indolor e com tempo de recuperação relativamente rápido”, comenta a médica.
O objetivo da SLT é desobstruir os canais da malha trabecular, para melhor drenagem do humor aquoso. Posteriormente à cirurgia, ocorre a diminuição e o controle da pressão dentro dos olhos.
Cirurgia de glaucoma em fases iniciais de glaucoma de ângulo aberto
Apesar dos colírios serem o tratamento mais usado para glaucomas de ângulo aberto, estudos recentes demonstraram que SLT é uma alternativa segura e eficaz para tratar pacientes recém-diagnosticados com glaucoma de ângulo aberto.
Quando os colírios e a SLT não são suficientes para controlar a pressão intraocular, pode haver indicação para cirurgia de glaucoma, como a trabeculotomia.
“Na trabeculectomia, abrimos uma nova via de drenagem para o humor aquoso escoar para fora do olho. Normalmente, a incisão é feita na esclera (parte branca do olho) e o líquido escoa para uma região abaixo da conjuntiva. Esta cirurgia de glaucoma é reservada para casos em que nem a SLT, nem os colírios, são suficientes para controlar a pressão intraocular”, conta a especialista.
Stents para glaucoma
Os stents para glaucoma são um dos tratamentos mais efetivos para controle da pressão intraocular, em pessoas com glaucomas de ângulo aberto. “O stent para glaucoma é microscópico, sendo implantado por meio das chamadas cirurgias minimamente-invasivas do glaucoma (MIGS), do inglês Micro-Invasive Glaucoma Surgery.
“As MIGS têm diversas vantagens em comparação com outras técnicas cirúrgicas como preservação dos tecidos, menor tempo cirúrgico e recuperação mais rápida. Por último, o principal benefício de se colocar um stent em pacientes com glaucoma é a eliminação ou a redução da necessidade de usar colírios para controlar a pressão intraocular”, afirma Dra. Maria Beatriz.
Tratamento cirúrgico de glaucomas de ângulo fechado
O outro tipo de glaucoma é o ângulo fechado, sendo a forma mais grave da doença. Isto porque, no ângulo fechado a pressão intraocular aumenta de forma repentina e rápida. Portanto, o tratamento precisa ser efetivo para reduzir a PIO o quanto antes.
“Há dois tipos de cirurgia de glaucoma de ângulo fechado: a iridotomia e a iridoplastia, ambas realizadas com laser, na região da íris, a parte colorida dos olhos. Na iridotomia, o oftalmologista cria um pequeno furo na periferia da íris para melhorar a drenagem do humor aquoso. A iridoplastia seletiva a laser (ISL) causa “queimaduras” (fotocoagulação) na íris, que se contraí e se afasta do ângulo. A partir disto, há uma melhora na drenagem do humor aquoso que tende a normalizar a pressão intraocular (PIO)”, esclarece a médica.
Normalmente, a indicaçao da iridoplastia é para pacientes com fechamento de ângulo, associado a condições como a íris em platô, a nanoftalmia (distúrbio do desenvolvimento ocular), cistos na íris e corpo ciliar. A iridoplastia também pode ser usada quando o paciente passou por uma iridotomia e não apresentou redução da pressão intraocular.
Considerações finais
Embora colírios e procedimentos a laser sejam, geralmente, as opções de tratamento de primeira linha para o glaucoma, a cirurgia de glaucoma pode ser necessária nos seguintes cenários:
- Quando os medicamentos causam efeitos colaterais graves e intoleráveis
- Quando o paciente não consegue aderir ao regime medicamentoso e muitas vezes se esquece de usar o colírio
- Quando o tratamento a laser não é suficientemente eficaz para reduzir a pressão intraocular
- Em casos iniciais de glaucoma de ângulo aberto
- Nos glaucomas de ângulo fechado, agudos e por trauma
“Seja como for, é importante manter os exames oftalmológicos em dia, especialmente após os 40 anos. A maior parte dos casos de glaucoma é de ângulo aberto, a forma silenciosa da doença. Ou seja, quando a pessoa percebe alterações na visão, significa que o glaucoma já está mais avançado. Felizmente, hoje existe tratamento que quando feito nas fases iniciais da doença, pode prevenir a perda definitiva da visão”, finaliza Dra. Maria Beatriz.