Neuroproteção no Glaucoma é foco de estudos e congressos
A neuroproteção no glaucoma refere-se a intervenções que podem prevenir ou retardar a neurodegeneração glaucomatosa, independentemente do controle da pressão intraocular (PIO). Estas abordagens têm sido um dos focos principais no desenvolvimento de tratamentos para o glaucoma.
O glaucoma é uma neuropatia óptica progressiva, caracterizada pela degeneração das células ganglionares da retina e perda do campo visual. Atualmente a doença é uma das principais causas de cegueira irreversível em todo o mundo.
Neuroproteção no glaucoma é foco das novidades em congresso
Segundo Dra. Maria Beatriz Guerios, oftalmologista especialista em glaucoma, a neuroproteção foi um dos temas mais abordados durante o Congresso Mundial de Glaucoma, que aconteceu entre os dias 28 de junho a 1 de julho, em Roma.
“Há muitas novidades em relação às pesquisas sobre a importância da neuroproteção. Basicamente, o que temos de concreto hoje é controle da pressão intraocular, seja por meio de colírios ou cirurgias. Entretanto, sabemos que mesmo controlando a pressão intraocular, os danos no nervo óptico podem persistir em quase metade dos pacientes. Por isto, os estudos envolvendo terapias e abordagens que possam proteger as células nervosas são essenciais para o futuro do tratamento do glaucoma”, ressalta a especialista.
Principais abordagens com foco na neuroproteção
Confira abaixo as principais pesquisas voltadas para a importância da neuroproteção do glaucoma.
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Brimonidina
Trata-se de um fármaco usado para reduzir a PIO. Estudos apontaram que esta substância aumenta a sobrevivência das células nervosas da retina, independente do controle da pressão intraocular.
Além disto, ela regula funções celulares, como crescimento neuronal, plasticidade, diferenciação e sobrevivência. Resumidamente, a brimonidina protege a retina do dano isquêmico e auxilia na regeneração neural após a lesão.
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Fator Neurotrófico Ciliar
O Fator Neurotrófico Ciliar (CNTF) é um neuropeptídeo produzido e liberado pelas células cerebrais. Vários estudos pré-clínicos mostraram que o CNTF aumenta a sobrevivência e a regeneração das células glanglionares da retina afetadas por doenças como o glaucoma. Atualmente um empresa farmacêutica conduz um estudo em Fase II. Os pacientes receberam um implante (dispositivo) no vítreo que libera o CNTF e estão sendo acompanhados para analisar a segurança e a eficácia.
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Fator de Crescimento do Nervo Humano Recombinante
O fator de crescimento do nervo humano recombinante (rhNGF) é um agente neuroprotetor eficaz, com um perfil de segurança e eficácia favorável. No Brasil já existem colírios à base de rhNGF que são usados no controle da PIO.
A novidade é que estudos apontaram que os medicamentos desta classe podem ter efeitos neuroprotetores. Mais estudos estão em andamento para avaliar se a neuroproteção ocorre independentemente do controle da pressão intraocular.
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Ginkgo Biloba
O extrato de Ginkgo biloba (GBE) tem vários efeitos antioxidantes e tem sido sugerido como um agente neuroprotetor em doenças neurodegenerativas, incluindo comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer.
A disfunção mitocondrial e o estresse oxidativo têm sido associados ao desenvolvimento da demência e do glaucoma. Não surpreendentemente, dada essa sobreposição mecanicista, os pesquisadores exploraram de forma semelhante os potenciais benefícios terapêuticos do GBE no glaucoma.
Um estudo apontou que pacientes com glaucoma de tensão normal que receberam o ginko biloba mostraram melhorias significativas nos índices de campo visual. Além de seus efeitos antioxidantes, o ginko biloba também possui efeitos reguladores vasculares e demonstrou melhorar o fluxo sanguíneo ocular.
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Citicolina
A citicolina é um composto endógeno, ou seja, produzido pelo organismo. Hoje se mostra um potencial agente terapêutico para o glaucoma. Estudos clínicos investigaram recentemente os efeitos neuroprotetores da citicolina no glaucoma em suas formulações de colírio intramuscular (IM), oral e tópico.
Os principais apontamentos científicos mostram melhora significativa no teste de campo visual, com manutenção dos efeitos terapêuticos por pelo menos 3 meses. Houve também redução significativa na taxa de progressão glaucomatosa e melhora da função da retina.
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Bloqueadores dos Canais de Cálcio
Os bloqueadores dos canais de cálcio (BCCs) são fármacos usados para o controle da hipertensão arterial sistêmica. Estudos mostraram que estes medicamentos estão associados à neuroproteção do glaucoma, principalmente porque melhorar a circulação sanguínea ocular, especialmente no nervo óptico. Outro achado é que os BCCs retardam a progressão dos defeitos no campo visual.
No entanto, alguns tipos de BCCS podem prejudicar o fluxo sanguíneos em episódios agudos de glaucoma e devem ser usados com cautela.
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Antioxidantes
A diminuição dos níveis de antioxidantes em conjunto com o aumento do dano oxidativo dos radicais livres tem sido implicada na patogênese do glaucoma. Alguns estudos demonstraram que os danos oxidativos causam a degeneração da malha trabecular e elevação da PIO. Como resultado, ocorre os danos no nervo óptico resultando no glaucoma.
Portanto, as pesquisas a respeito do papel dos antioxidantes para combater os danos oxidativos são muito relevantes na área do glaucoma.
Entre os vários antioxidantes, a Coenzima Q10 (CoQ10 pode ser útil na eliminação de radicais livres e na minimização do estresse oxidativo. A nicotinamida (vitamina B3 ou NAM) também tem um perfil neuroprotetor favorável no glaucoma.
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Inibidores de Rho-quinase
Os inibidores da Rho-quinase são uma classe terapêutica estudada há décadas para tratar o glaucoma. O principal foco seria o controle da PIO por meio da melhora do escoamento do humor aquoso.
As pesquisas avaliam a capacidade destes fármacos de aumentar o fluxo sanguíneo ocular e a sobrevida das células ganglionares da retina. Ou seja, os estudos focam hoje no efeito neuroprotetor desta classe terapêutica.